Caaporã, cidade governada por um prefeito lobista: em apenas nove meses de gestão, Chico Nazário mancha história do município

12 out 2025 - Destaque

Escândalos, áudios, denúncias e vídeos comprometedores colocam o prefeito de Caaporã no centro de uma investigação do Ministério Público que já aponta indícios de corrupção, tráfico de influência e manipulação política

Em apenas nove meses de mandato, o prefeito Chico Nazário mergulhou Caaporã em uma das maiores crises políticas de sua história. O que começou com promessas de renovação se transformou em uma sucessão de escândalos, áudios comprometedores e denúncias de corrupção, que agora colocam o gestor no centro de uma investigação do Ministério Público da Paraíba (MPPB).

As gravações expõem um comportamento típico de lobista, com negociações de contratos, cargos e acordos políticos, e reforçam a imagem de um prefeito que usa o poder público como instrumento de influência e favorecimento.

Fontes próximas à investigação confirmam que o GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) pode chegar a Caaporã nos próximos dias para avançar nas apurações.

O escândalo da “bolsa de dinheiro”: o início da crise

A primeira grande repercussão ocorreu com a divulgação de um vídeo em que Chico Nazário recebe uma bolsa de dinheiro, supostamente entregue pelo empresário e ex-secretário Sandro Trajano de Freitas.

Segundo as denúncias, o valor — estimado em cerca de R$ 400 mil — teria sido usado como caixa dois eleitoral nas eleições de 2024, em troca da promessa de contratos públicos milionários.

Pouco tempo após assumir o cargo, o prefeito rescindiu o contrato de limpeza urbana e colocou outra empresa para executar o serviço, desta vez com valor dobrado, reforçando as suspeitas de manipulação de licitação e acordos financeiros ilegais.

Ministério Público investiga e pede 90 dias para conclusão

O Ministério Público da Paraíba confirmou a abertura de um inquérito civil para apurar as denúncias. O órgão solicitou 90 dias de prazo para reunir provas, realizar oitivas e concluir a investigação preliminar.

O foco principal, segundo fontes jurídicas, é ouvir o denunciante Sandro Trajano, que deverá apresentar novos vídeos e áudios com provas de negociações irregulares entre o prefeito, familiares e empresários beneficiados.

Há indícios de vídeos ainda mais comprometedores, que mostram pessoas ligadas ao gestor negociando vantagens indevidas, contratos e cargos públicos em troca de valores.
O Ministério Público já considera a apuração fundamentada e com elementos suficientes para avançar à próxima fase.


O último áudio divulgado: Chico negocia contratos e “ajeita valores”

O áudio mais recente, divulgado nesta semana, reforça o comportamento de um gestor que interfere diretamente em contratos públicos.
Na gravação, Chico Nazário explica a um interlocutor como pretendia trocar a empresa responsável pela coleta de lixo e aumentar o valor da licitação:

“Além do aditivo, tem que fazer a nova licitação pra ajeitar o valor lá”, diz o prefeito no diálogo com o ex-secretário Sandro Trajano.

O conteúdo, de teor explícito, não deixa dúvidas sobre a intenção de manipular o processo licitatório. A fala é tratada pelo Ministério Público como prova de dolo administrativo, reforçando o perfil de um prefeito que usa o cargo para fazer lobby dentro da própria máquina pública.

“Puxei mais um vereador, agora vou atrás do presidente”: a tentativa de controlar a Câmara*

Outro áudio, também atribuído a Chico Nazário e amplamente divulgado nas redes sociais, revela uma tentativa clara de manipulação política dentro da Câmara Municipal.

Na conversa, o prefeito comenta ter “puxado” mais um vereador para sua base e afirma que irá “pra cima do presidente da Câmara”, reconhecendo que o controle do Legislativo seria “a chave do poder”:

“Puxei um ontem, Atos, o vi@do, eu tinha 6 e agora já tô com 7. Agora eu vou atrás do presidente da Câmara, o presidente da Câmara que é a chave, né?”

O diálogo, de tom ofensivo e depreciativo, mostra uma tentativa explícita de cooptar apoio político, manipular a base parlamentar e enfraquecer o papel fiscalizador do Legislativo.

“Vou atrás do presidente, ele é a chave”, diz Chico, escancarando o desejo de calar a Câmara e dominar o processo político da cidade.

O caso dos terrenos e o embate com o Legislativa

O clima de tensão entre Executivo e Legislativo se agravou recentemente após a Câmara suspender a votação de um projeto de lei que previa a doação de terrenos públicos a empresas privadas, sem transparência clara sobre os beneficiários.

A decisão do Legislativo provocou a ira do prefeito, que partiu para ataques públicos contra o presidente da Câmara, Oto Mariano, tentando criar uma cortina de fumaça para desviar a atenção dos escândalos investigados pelo Ministério Público.

A matéria completa sobre o episódio pode ser conferida aqui: nas mais lidas do nosso site.

“Este presidente não vai se dobrar à perseguição iniciada pelo prefeito”, afirmou Oto Mariano, destacando que o Legislativo “não pode se curvar diante de práticas autoritárias e chantagens políticas”.

O retrato de um prefeito lobista

As sucessivas gravações e episódios revelam um prefeito que atua como lobista institucional, negociando cargos, contratos, alianças políticas e até o silêncio de vereadores para manter o controle do poder.

Em apenas nove meses de gestão, Chico Nazário conseguiu manchar a história política de Caaporã, um município que até então nunca havia protagonizado escândalos dessa dimensão.

“É um prefeito que governa pela barganha e pelo controle, negociando tudo: contratos, empresas e até vereadores. É vergonhoso e revoltante”, comenta uma fonte local ouvida pela reportagem.

Câmara sob pressão e sociedade atenta

O caso reacende a cobrança para que a Câmara Municipal de Caaporã cumpra seu dever constitucional de fiscalizar o Executivo. Juristas alertam que a omissão dos vereadores pode ser interpretada como conivência com práticas ilícitas.

Enquanto isso, o Ministério Público avança na coleta de provas, e novas denúncias e vídeos devem ser entregues nos próximos dias.

Com nove meses de governo e uma pilha de escândalos, Chico Nazário transformou Caaporã em palco de vergonha nacional, expondo um retrato de poder marcado por manipulação, irregularidades e desrespeito às instituições.